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Com o crescimento do feminismo, livro “O mito da beleza” é relançado

  • Foto do escritor: alexiachlamtac
    alexiachlamtac
  • 31 de mai. de 2018
  • 4 min de leitura

Atualizado: 26 de nov. de 2018



No primeiro semestre de 2018, a editora Record relançou seu selo feminista, o “Rosa dos Tempos”, e com ele o livro “O mito da beleza”, da jornalista e escritora americana Naomi Wolf. Lançado inicialmente em 1991, nos Estados Unidos, o título rapidamente tornou-se referência entre as publicações sobre a terceira onda feminista e aborda questões como distúrbios alimentares, excesso de procedimentos cirúrgicos e dominação masculina como consequências e causa da busca desenfreada por um ideal de beleza.


Para iniciar a viagem antropológica, a autora traz uma breve explicação sobre o mundo feminino dos anos 1990 e os padrões de beleza da época. Para ela, é necessário que se entenda que toda grande conquista feminista vem seguida de um período de “sedativo político” onde o patriarcado* tenta impedir os avanços feministas. Ela explica que “a cada geração em que ocorria um despertar dessa natureza, dizia-se à geração seguinte que voltasse para casa (...), que todas as batalhas tinham sido ganhas”.


Mulheres marchando em Washington (EUA) pela equidade de gênero / Foto: Bryan Woolston/Reuters

De forma direta e objetiva, Naomi traça um panorama da situação a qual mulheres vêm sendo submetidas há décadas e deixa claro que, independente da época, os padrões de beleza têm cunho político e de aprisionamento das mulheres. Ela diz que “quanto mais fortes as mulheres se tornassem em termos políticos, maior seria o peso do ideal de beleza sobre seus ombros, principalmente para desviar sua energia e solapar seu desenvolvimento”. Ou seja, o mito da beleza, que sofreu mudanças ao longo dos anos, nada mais é do que uma forma de contingência das mulheres por meio de uma distração frívola.


Para a autora, “quanto mais numerosos foram os obstáculos legais e materiais vencidos pelas mulheres, mais rígidas, pesadas e cruéis foram as imagens da beleza feminina a nós impostas”. Para cada grande avanço “social” feminino, cresce uma mazela, tal e qual os transtornos alimentares. A negociação à entrada no mercado de trabalho passa pela aparência e é decidida através de atributos físicos. De acordo com as pesquisadoras, Jennifer Berdahl e Natalya Alonso, da University of British Columbia, no Canadá, 48% das CEOs das maiores empresas do mundo, aquelas pertencentes ao índice S&P 500 (Standard & Poor’s 500, índice que contempla as 500 empresas líderes da bolsa NASDAQ) são loiras. Já a bancada feminina no senado americano tem dois terços compostos por mulheres loiras. No mundo, apenas 2% da população é naturalmente loira, de acordo com a pesquisa de George Boeree, de 2014. No Brasil, temos apenas uma CEO negra, a executiva Rachel Maia, da Lacoste.


As pesquisadoras explicam que quatro fatores influenciam nesse clareamento de cabelos: questões raciais - porque cabelos loiros são naturais de pessoas brancas e essas alcançam cargos mais altos com maior facilidade; de juventude - os cabelos platinados são mais comuns em crianças; bondade - porque mulheres loiras são vistas como mais gentis; e atratividade - os homens costumam enxergar as mulheres loiras como as mais sexy. Ainda que os homens apontem as mulheres morenas como as melhores para ocupar a presidência de uma empresa, eles julgavam-nas duramente nos quesitos acolhimento e atratividade.


A pesquisa apenas corrobora, com dados mais atuais, o que Naomi explica em seu livro de maneira bastante elucidativa e detalhada. Por mais que mulheres não mudem a cor do cabelo de maneira consciente, o padrão eurocêntrico torna-se uma questão, por exemplo, na hora de conseguir ou não uma promoção no trabalho. Assim, o mito da beleza além de ser uma forma de distrair as mulheres de seus objetivos sociais, é também uma forma de alimentar a disputa entre elas e de dominação masculina. Em “O mito da beleza”, a autora diz que “a ideologia da beleza é a última remanescente das antigas ideologias do feminino que ainda tem o poder de controlar aquelas mulheres que a segunda onda do feminismo teria tornado relativamente incontroláveis. Ela se fortaleceu para assumir a função de coerção social que os mitos da maternidade, domesticidade, castidade e passividade já não conseguem impor”. Ou seja, o mito é uma forma cruel de controle das ações coletivas femininas.


Para além dessas questões, a autora também fala do aspecto cultural que o mito da beleza conquistou e de como as revistas femininas abordam o assunto, sendo pautadas por anunciantes gigantes dos mercados de moda e beleza. Ela diz que, no cenário da Segunda Guerra Mundial, “diante de uma enorme revolução social que estava dando às mulheres responsabilidade, autonomia, creches públicas e pagamento compensador, os anunciantes precisavam se certificar de que ainda restaria um mercado para seus produtos”. Assim, década após década, as revistas, como forma de se sustentar, foram se adaptando às necessidades dos anunciantes e criando novas imagens a serem seguidas e que aprisionam as mulheres.


O livro ainda aborda de maneira cirúrgica e precisa temas espinhosos como religião, fome, sexo e violência por meio do mito da beleza, as diversas formas de torturas às quais as mulheres se submetem conscientemente, ou não, em busca de um ideal criado para ser sempre reformulado para ser inalcançável.


*Patriarcado: forma de sistema social regido por homens e em que eles detêm os principais poderes de funcionamento dessa sociedade, como liderança política, controle familiar, autoridade moral e todos os privilégios advindos desses poderes.

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